Acontece, por vezes, que existam
dificuldades familiares na resolução dos desafios quotidianos, o que pode levar
a que surjam conflitos entre os vários membros. Quando esta situação acontece,
torna-se importante consultar um profissional para que se evite um agravar da
situação. Pode até pensar que com o tempo a situação acabará por acalmar, no
entanto, se o problema de base não for corretamente resolvido, mais tarde, o
problema acaba por surgir novamente.
Para
se compreender o funcionamento de uma determinada família, devemos ter em
consideração que vários foram e são os desafios que esta enfrenta ao longo do
seu desenvolvimento. E será, essencialmente, a forma como cada família resolve
e enfrenta estes mesmos desafios que irá permitir o seu crescimento e
adaptação.
Quando
em contexto de consulta uma família nos traz um determinado problema, vários
são os pontos aos quais devemos ter atenção, nomeadamente a forma como ocorre a
comunicação entre os seus membros, a vinculação, a intimidade e muito
importante, os limites que existem entre as diferentes hierarquias de uma
família. Essencialmente, o que caracteriza e delimita estas hierarquias são
os papéis, funções, normas e estatutos desempenhados por cada elemento - numa família podemos encontrar fundamentalmente quatro
pequenos grupos: Individual; Conjugal; Parental e Fraternal.
Em primeiro lugar, antes de membro de uma família,
todos nós somos pessoas! Pessoas individuais com papéis e funções nos vários
contextos por onde vamos passando no nosso dia-a-dia. Somos o aluno, o
trabalhador, o amigo, o colega de trabalho… e obviamente que aquilo que somos
em determinado contexto influencia de forma dinâmica todos os outros pelos
quais vamos passando.
Num segundo momento temos o casal, composto por marido
e mulher. O apoio e a adaptação entre os dois são aspetos essenciais ao seu bom
funcionamento. Uma das funções do casal em relação à restante família é exatamente
o desenvolvimento de limites e fronteiras que protejam o casal da intrusão
de outros elementos (p.e. família de origem de cada um dos elementos do
casal ou os filhos).
Num momento posterior, surgem então os Pais! Neste
momento o casal começa a assumir funções executivas como a educação e proteção
dos seus filhos. É a partir das interações pais-filhos que as crianças
aprendem o sentido de autoridade, a forma de negociar e de lidar com o conflito
no contexto de uma relação vertical. Embora composto habitualmente pelas
mesmas pessoas, importa termos presente que antes de ser pai e mãe, o casal é
composto pelo marido e pela mulher e dai a importância do estabelecer de
limites entre estas hierarquias.
No final da hierarquia, temos os filhos/irmãos. Este
pode ser considerado um lugar de socialização e de experimentação de papéis.
É neste contexto que as crianças desenvolvem as suas capacidades relacionais,
experimentando o apoio mútuo, a competição, o conflito e a negociação.
O facto de cada uma das hierarquias ter funções
diferentes, mas ao mesmo tempo se encontrarem intimamente relacionadas, torna
essencial que se encontrem definidos limites/fronteiras claras entre elas, como
se de linhas divisórias se tratasse. Estes limites são, no fundo, regras que
definem quem participa em cada hierarquia e como o faz, tendo como objetivo
proteger a diferenciação dos seus membros.
No fundo, evitar que surjam crianças com poder sobre
os pais ou até mesmo sobre os irmãos, alianças entre crianças e um dos
elementos paternos contra o outro elemento. Pais que desviam sempre o conflito
com os filhos para o parceiro, relações excessivas entre um dos pais com os
filhos, elementos da família sem qualquer tipo de individualidade, sem espaço
para si, influenciando de forma negativa todo o seu comportamento e forma de
estar. Todas estas situações são pequenos exemplos de como os limites não se
encontram bem definidos entre as hierarquias.
É muito importante que cada um saiba qual o seu papel,
tarefas e sobretudo, até onde pode ir. O casal deverá manter um espaço seu,
diferente do espaço que tem enquanto pais. A negociação de todas as questões
associadas à educação dos filhos deverá ser tida sempre enquanto pais e não
enquanto casal.
A maior parte dos conflitos e dificuldades que vão surgido nas famílias encontram-se muitas vezes relacionadas com a fusão destes limites. A família acaba por não ter recursos suficientes para identificar o foco do problema e neste caso, torna-se importante recorrer a ajuda especializada no sentido de reencontrar o equilíbrio familiar, através da Terapia Familiar.
É
na família que as crianças aprendem a interagir, podendo-se considerar um
espaço onde começam por viver relações afetivas profundas, constituindo-se
deste modo uma importante base da vida social.
Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 020837